Autor: Alexandra Marques Pinto

Resumo: Os professores encontram-se entre os profissionais sujeitos a níveis mais elevados de stress, sendo igualmente o seu grupo profissional aquele em que os sintomas de exaustão emocional e de despersonalização, próprios do síndroma de burnout, se revelam mais frequentes em alguns países. Com este trabalho procuramos dar um contributo para o estudo do burnout profissional dos professores portugueses, da sua incidência e desenvolvimento ao longo da carreira docente, e da sua compreensão num quadro transnacional em que se destacam as variáveis de stress e coping e se propõe uma articulação com as representações sociais que os docentes controem do burnout na sua profissão (capítulos dois e três).

Pretendendo afirmar a relevância de uma abordagem societal do burnout, começamos por analisar o fenómeno do burnout profissional dos professores no quadro da teoria das representações sociais. Os dois estudos empíricos desenvolvidos (capítulo três), envolvendo mais de 900 professores portugueses, permitiram-nos reconstruir e caracterizar três grandes representações sociais do burnout na docência – burnout como doença, burnout como desadaptação e burnout como absentismo –  sugerir diferentes tendências de relação entre estas representações sociais e as estratégias de coping utilizadas pelos docentes em situação de stress profissional e propor as representações sociais do burnout como doença e como absentismo como variáveis moderadoras da relação entre o coping e o burnout.

Seguidamente (capítulo quatro), debruçamo-nos sobre os problemas da incidência e dos preditores do burnout profissional dos professores. O estudo empírico realizado  com uma ampla amostra de docentes (N=777) da zona da DREL, revelou alguns indicadores preocupantes de mal-estar profissional: 54% dos professores inquiridos percepcionam a sua profissão como uma actividade muito ou extremamente geradora de stress; 6.3% evidenciam graves sintomas de burnout, encontrando-se numa situação que diríamos de burnout pleno; e cerca de 30% apresentam sintomas preocupantes e um elevado risco de evoluírem para um quadro de burnout pleno.

Este estudo veio corroborar a relevância de uma conceptualização e prevenção multidimensional do burnout ao identificar preditores diferenciados para cada uma das três dimensões que caracterizam este síndroma: a exaustão emocional configura-se como uma reacção ortodoxa ao stress profissional; o valor preditivo das variáveis de coping relativamente à perda de realização pessoal no trabalho alerta-nos para a importância das estratégias e competências profissionais tendo em vista uma melhoria do sentido de auto-eficácia profissional; finalmente a despersonalização revela-se como a mais complexa das três dimensões do burnout, sendo de destacar o valor preditivo que as estratégias de coping de negação e evitamento e as representações sociais do burnout como desadaptação e como absentismo assumem na sua explicação.

Este estudo permitiu-nos igualmente clarificar o papel disfuncional que as estratégias / estilos de coping de negação e evitamento assumem na relação stress – burnout, potenciando os sentimentos de exaustão emocional e de despersonalização e diminuindo a realização pessoal no trabalho. Permitiu-nos ainda analisar o papel das representações sociais do burnout no processo de stress – coping – burnout, destacando a sua relevância para uma compreensão acrescida da dinâmica conducente ao uso de padrões de coping disfuncionais e, muito em particular, à dimensão de despersonalização do burnout: as atitudes de despersonalização parecem ser em grande medida reguladas pelas representações sociais do burnout como desadaptação e como absentismo.

No final do trabalho (capítulo cinco) fazemos uma reflexão crítica sobre a prevenção do burnout pensada a nível da formação de professores, tendo em conta as limitações dos habituais programas de prevenção e tratamento do burnout profissional e as principais implicações dos resultados dos estudos empíricos que este trabalho inclui.

Author: Alexandra Marques Pinto

Abstract: Teaching is recognized as one of the most stressful occupations. The comparison between levels of burnout across professions in different countries reveals high levels of emotional exhaustion and depersonalization in teaching. The primary goals of this study are to examine the incidence and development of professional burnout among Portuguese teachers and to contribute to a more integrated understanding of this phenomenon. Therefore, we propose a transactional framework for the study of teachers` burnout and emphasize the importance of social representations as intervening variables in the stress – coping – burnout process (chapters 2 and 3).

We start out with a discussion of the social representations theory as a heuristic for studying teachers` professional burnout by stressing the usefulness of a societal approach to burnout. Two empirical studies were conducted (chapter 3), with a sample of over 900 Portuguese teachers, allowing us to identify three different social representations of professional burnout put together by teachers: burnout as absenteeism; burnout as “misadaptation”; and burnout as an illness. The analysis performed suggests different relationships between this social representations and coping strategies used by teachers to deal with professional stress. We also formulate a series of hypotheses concerning the role of burnout’s social representations as an illness or absenteeism as moderating variables in the coping – burnout relationship.

Next (chapter 4), we present a comprehensive and critical overview of research on the incidence and possible causes and consequences of teachers` professional burnout. An empirical study was conducted, with a sample of 777 Portuguese teachers, yielding dramatic results: 54% of respondents consider being a teacher as “very ” or “extremely” stressful; 6.3% show high level symptoms in all three burnout dimensions; and nearly 30% show a high risk of becoming fully “burned –out”.
Burnout has been equated with many alternative definitions. Nevertheless, this study identified different predictors for each burnout dimension, providing support for the relevance of Maslach`s three-dimensional burnout conceptualization. More specifically, emotional exhaustion shows up as a traditional response to professional stress; the predictive value of coping variables to personal accomplishment draws special attention to the role played by professional skills and strategies in the development of a positive evaluation of self-efficacy; finally, the predictive value of both coping (of denial and avoidance) and social representations (of burnout as absenteeism and of burnout as misadaptation) variables to depersonalization strongly suggests that this is the most complex of all three burnout dimensions.

This study also clarified the dysfunctional role played by denial and avoidance coping strategies in the stress – burnout relationship, enhancing emotional exhaustion, depersonalization and reducing personal accomplishment. In addition, this study allowed us to analyze the role played by social representations of burnout in the stress – coping – burnout process, highlighting the relevance of these variables in a better understanding of the dynamics leading to the use of dysfunctional coping strategies and, specially, to the development of depersonalization – depersonalization attitudes seem to be regulated by social representations of burnout as misadaptation and of burnout as absenteeism.

In the closing chapter (chapter 5), we elaborate a critical reflection about burnout prevention in terms of teacher training, considering the limitations of prevention programs and professional burnout treatment, and the primary implications of the empirical studies concluded from this study.

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